terça-feira, 29 de setembro de 2009

O corpo fala

Quarta-feira, 17 de Junho de 2009

O livro “O Corpo Fala” (Pierre Weil e Roland Tompakow, ed. Vozes) aborda a relação não-verbal do nosso corpo com o ambiente, destacando ações em que, mesmo em silêncio, dizemos exatamente o que estamos sentindo ou pensando. É um livro com uma teoria interessante e que, se você pensar bem, tem alguma lógica, como o fato de cruzar os braços ao conversar com alguém significar defesa, como se os braços te dessem a distância necessária daquela pessoa.
O meu corpo tem falado também. Não exatamente no contexto do livro, mas tem falado. Eu diria que ele tem gritado muito para me fazer tentar ouvir. Quando eu fiquei grávida – e engordei absurdos 17 quilos – meu corpo começou a querer me dizer alguma coisa, porque eu fiquei um pouco mais saudável, mesmo sem querer. Eu nunca fui uma pessoa de comer coisas lights, verdes e frutas. Pelo contrário, adoro fast-food e coisas engordativas. Mas, durante a gravidez eu senti um único desejo: comer goiabas. Eu devorava ferozmente goiabas vermelhas e lindas e, em um só dia, eu cheguei a comer oito delas! Minha amiga Vanessa dizia que meu filho ia nascer a cara do Chico Bento se eu continuasse assim...
No entanto, mesmo comendo as goiabas, eu não ouvia meu corpo pedindo coisas saudáveis e continuei comendo as coisas que gostava. E no sexto mês de gravidez um exame detectou minha diabete gestacional. Como “castigo” fiquei até o fim da gravidez sem comer nada que contivesse açúcar e a controlar, como xiita, o consumo de carboidratos. Meu filho nasceu, a diabete passou, eu amamentei, emagreci bem e, me sentindo saudável de novo, voltei aos meus velhos hábitos: comer qualquer porcaria para enganar o estômago, jantar lanches, deixar de lado de fora do prato tudo o que é verde, substituir as frutas por doces e sorvetes e claro, nunca mais comi goiabas.
Por um tempo foi tudo bem, até começaram a nascer espinhas – aquelas que eu não tive nem na época da adolescência. Depois, aftas e mais aftas, sarava uma e aparecia outra. E a gripe? Era só pronunciar esta palavra para eu pegá-la. Relapsa que sou, fui levando. Foi quando as calças começaram a ficar muito justas, as blusas não fechavam e o biquíni ficou horrível. Pior ainda era olhar uma roupa linda na vitrine, tentar experimentar e ver que “não tem seu tamanho”. Nem você sabe mais qual é o seu tamanho. Minha mãe, sempre no pé, me avisava: “você precisa fazer um regime!” E eu, mesmo sabendo que ela tinha razão, descontava minha frustração comendo mais.
De repente, comecei a me sentir mais cansada do que o habitual. Qualquer caminhada era um sufoco e, só de pensar em sair e ter que me vestir, eu ficava triste, porque sabia que minhas roupas estavam apertadíssimas. Chorei, chorei, chorei. Morri de ódio de mim mesma, de ser tão fraca, de não ter força de vontade para conseguir ser eu mesma de novo.
Criei coragem, fui ao médico. Fiz milhões de exames que me disseram exatamente aquilo que o meu corpo estava tentando me dizer e eu não ouvia: você está doente. Seu colesterol e seu triglicérides estão altos e você está a um passo de se tornar diabética de novo. E o seu peso está 20 quilos acima do ideal.
Fiquei em estado de choque. Vinte quilos é mais do que eu engordei na minha gravidez! Precisei tomar uma atitude e, desta vez, estou tomando. Comecei a dieta da nutricionista há quase um mês, estou tomando os remédios que controlam o colesterol, cortei doces e estou dosando bem os carboidratos. E, mesmo que ainda esteja no primeiro mês, já me sinto bem mais leve. Algumas calças já entram com mais facilidade e eu tenho mais disposição. Ver que está dando certo me motiva a continuar e a prestar mais atenção em mim e nos sinais que o meu corpo me dá. Eu preciso entender que não sou mais uma adolescente. Eu já sou uma mulher e o corpo vai pedindo cuidados que eu estava ignorando. Cuidar de mim não significa só eu estar bem, mas também uma vida mais saudável dentro da minha casa. Estamos nos habituando a comer frutas como sobremesa, sem ficar neurótica com um doce de vez em quando. É a famosa dose de equilíbrio, que estou tentando colocar em nossa rotina e tem dado certo.
Tudo isso tem servido para me mostrar que eu precisava mesmo começar a ouvir o que o meu corpo estava dizendo e que, nem sempre, este papo de “natureba” é modinha. Mais uma vez, foi preciso sentir na pele para poder aprender, mas eu estou aprendendo e espero, de verdade, que, na próxima vez em que o meu corpo falar, ele berre, aos quatro cantos do mundo: “você conseguiu!”