domingo, 27 de julho de 2014

Tipo Eduardo e Mônica



Quem um dia irá dizer que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração? 
E quem irá dizer
Que não existe razão?


Dia desses ela abriu os olhos mas não quis se levantar

Ficou deitada e viu que horas eram
Enquanto ele trabalhava
No outro canto da cidade
Como eles disseram

Ele e ela se encontraram há muitos anos
E conversaram um pouco pra tentar se conhecer
Ela vivia uma outra história e ele algumas outras

Eram muito diferentes.

Ele falava em números, dinheiro, carros.
Ela comentava sobre astrologia e um recém-lançado livro de crônicas.

Nada os ligava, mas não conseguiam tirar os olhos um do outro.
Ela com outro; ele olhando.
Ele com outras, olhando para ver se ela via.
E ela via. Com ciúme, quieta, sem entender aquele sentimento.

Mas via.

E mesmo com tudo diferente, anos depois
Apareceu uma vontade de se ver.
E mesmo não se falando todos os dias
A vontade crescia e eles tiveram que ceder.

Ele e ela trocaram MSN e conversaram
Decidiram se encontrar
E ao se verem perceberam que todo o tempo passado
Não tinha apagado aquele sentimento – era de se estranhar.

Tipo festa estranha, com gente esquisita.

Ele já estava no esquema trabalho-dinheiro-meu carro
Ela ainda no esquema escola-cinema-televisão.

Quando estavam juntos, nada disso importava.
Os beijos eram os mais quentes
A vontade de estarem próximos era a mais forte.
Diferenças que se apagavam ao misturarem a respiração.

Ele gostava de magras, baixinhas, sapato 36.
Ela gostava de menos intransigência, mais simplicidade, mais riso.
Ela era alta, nem tão magra assim, sapato 37.
Ele era altivo, onisciente, emburrado.

De olhos fechados e bocas coladas, isso tudo era indiferente.

Mas o tempo...
Ah, o tempo!
Ele passou.
E os afastou. De novo.

Quem um dia irá dizer existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?

Naquele dia
Quando estava deitada e não quis se levantar
Viu que o barulho era do celular
Com sono, não quis ver.

Horas depois, ao despertar, percebeu:
O passado estava ali, tocando de novo.

E quem irá dizer que não existe razão?