terça-feira, 29 de setembro de 2009

O amor dói

Quarta-feira, 29 de Abril de 2009

Meu filho acordou às 2h da manhã para mamar. Uma situação típica de todas as noites que pode ter uma variação de 30 minutos a uma hora, mas que sempre acontece. Enfim, seria mais uma ação da rotina que estou vivendo há 2 anos e 3 meses. Mas não foi. Porque quando ele acordou eu também estava acordada. E ao ouvi-lo dizer o primeiro “mamãe”, com sono e chorando, eu dei um pulo e peguei logo a mamadeira. E, num gesto que não faço há tempos – por sono, cansaço ou costume – eu decidi dar de mamar com ele em meu colo. Eu o peguei em meus braços, e, como se ele fosse um bebezinho, eu comecei embalá-lo enquanto ele segurava a mamadeira. Por alguns segundos eu fiquei ali, contemplando a minha cria e mais uma vez me perguntando como pode uma pessoinha assim, tão pequena, ocupar um lugar tão maravilhoso na minha vida.


E foi ai, em uma fração de segundos, que as coisas não continuaram como costumavam ser. Ele começou se debater. Resmungar. Se mexer mesmo. E então eu percebi que o meu bebê estava incomodado. Ele não queria mamar no meu colo. Ele não queria ser embalado. Ele queria, simplesmente, matar a fome da madrugada. E para isso bastava uma mamadeira bem feitinha. E não um colo de mãe.

Então eu o coloquei de volta em sua caminha e fiquei olhando, para confirmar se era isso mesmo. E era. Ele ficou quietinho, de olhos fechados, mamando. E quando terminou, esticou o bracinho pra mim, murmurou um “cabô”, pegou a chupeta, virou de lado e voltou a dormir. Eu fiquei olhando para aquela cena e comecei a me perguntar quando isso aconteceu. Quando foi que ele começou a crescer que eu não vi? Aonde eu estava neste dia?

É frase feita que para todas as mães os filhos são eternas crianças. E é frase feita também aquela do “aproveite agora porque logo ele que não vai querer sair com você”. Mas usando outro clichê, é verdade que só depois que a gente é mãe é que entende.

Meu filho tem apenas 2 anos e 3 meses. Usa fraldas, fala de tudo mas enrola as palavras, não sabe ler, escrever, tampouco come sozinho sem fazer sujeira. Ele não sabe nem ir sozinho para a cama! Mas ele já sabe que não precisa do meu colo para dormir. E sabe também que eu posso ser útil dando-lhe uma mamadeira. Ele já sabe usar o poder de filho. Ele já sabe que as pessoas – principalmente seus pais – têm uma função. E a minha era a de saciar sua fome para que ele pudesse dormir em paz. Nada de afagos, nada de carinho. Quem sabe em uma outra hora, quando não atrapalhasse seu sono?

E foi com este episódio que eu entendi, de uma vez por todas, que é verdade que a gente cria filho pro mundo. Dá um orgulho danado saber que aquela coisinha linda, que dorme tão lindo, fazendo biquinho, é meu filho, uma parte de mim, continuidade da minha vida e do meu amor pelo meu marido. Mas também dói muito saber que ele não vai precisar de mim pra sempre. Logo ele não usará mais fraldas. E saberá pegar seu leite. Depois, vai me pedir pra dormir na casa da vó, do amigo, da namorada. E depois, não vai me pedir mais. E depois vai se mudar. E então, eu que vou pedir para ele vir me visitar. Eu que vou pedir sua companhia. Quem sabe não peça para que ele durma na minha cama, entre seu pai e sua mãe, pelo menos mais uma vez?

Ser mãe é uma dor gostosa.