sábado, 15 de novembro de 2014

Perdas e Danos

É possível perder algo que nunca teve?
Sim, hoje tenho certeza disso.

Acabo de perder um filho que eu nunca tive. Um filho que nunca foi meu. E se tem uma coisa que posso afirmar com toda certeza desse mundo é que mesmo sem saber que ele existia, não há dor maior do que saber que ele se foi.

Não deu nem tempo de saber que ele estava lá. Nem pude rir disso, muito menos sonhar.

A única lembrança que ele me deixou foi dor. Muita dor. Primeiro começou com a dor física - quase insuportável por dias - que me fez ir e voltar de médicos constantemente. E agora me deixou a dor emocional de saber que ele estava aqui e nunca foi meu. Nem será. 

Não, ele não era planejado, tampouco esperado. Mas se veio, era pra ficar. Já consigo imaginar inutilmente meu mundo com a sua presença. 

Os médicos me deram a notícia como se fosse algo bom: não vai precisar de cirurgia, tudo se resolverá naturalmente! Faltaram os "vivas, vivas". As pessoas me dizem: "Deus sabe o que faz, confie". E eu só consigo pensar: "por quê?" Por que comigo, por que agora, por que assim? 

Como eu disse ontem: um dia, quem sabe, seja possível entender o por quê das coisas. Mas hoje não quero pensar nisso. Quero sentir a minha perda e deixar que ela flua. Talvez ela me faça ser uma pessoa melhor, talvez me traga boas lições. 

Hoje eu só quero chorar e esperar passar. Porque vai passar, eu sei. 

Enfim: é possível perder algo que nunca se teve. E quer saber? É ruim demais.