sexta-feira, 8 de junho de 2012

Tudo é só isso


Tem um livro muito legal, escrito pela jornalista Milly Lacombe, que tem esse título: "Tudo é só isso". Trata-se de uma reunião de crônicas e relatos pessoais que emocionam e nos apresentam ao universo sensível da autora, que até então, era desconhecida para mim. Gosto muito do livro e de quebra, passei a gostar da Milly. Mas a frase que dá nome ao livro não me sai da cabeça há alguns anos, desde que o comprei.

Muitas vezes, em meio a tantos problemas ou a tantos medos - quando acaba, eu penso: "foi só isso?". Porque a gente chora tanto, se estressa tanto, se preocupa tanto e quando passa, fica um vazio, um oco tão grande, que a sensação de "eu sou só isso" é enorme.
O mesmo acontece com coisas boas também. Meu casamento, por exemplo. Foram meses planejando, sonhando, idealizando. E aí, quando aconteceu, foi tão rápido, eu nem vi direito. E fica a sensação: "tudo é só isso".

Na semana passada essa frase me seguiu de novo. Foi um sábado difícil para mim e pro meu irmão de vida. Foi o dia de tirarmos as coisas dela de casa. Meio que um ritual que marca, de uma vez por todas, a sua partida. E de repente, anos e anos de uma vida muito bem vivida estavam lá, em cima de uma cama, sendo separados para doação ou para o lixo. Por mais que cada peça tivesse a presença dela tão forte na gente, eram só coisas materiais, que nada mais servem, de nada mais são úteis. E é aí que a gente entende o significado de: "dessa vida a gente não leva nada".

O que ela foi em vida e o que ela ainda representa pra gente é muito maior do que qualquer coisa que estava em seu guarda-roupa. Em quase duas horas, quase 48 anos de vida foram ensacados e separados. A única coisa palpável dela agora é a nossa saudade, que é tão densa que precisa de um assento a mais no carro.

E quando tiramos tudo, olhamos pros sacos, saímos do quarto, sentamos e choramos. Mas não choramos pelas roupas. Choramos porque agora temos a certeza de que ela não volta. Acabou a ilusão de que ela ainda está no hospital e em breve estará conosco. E depois, choramos por nós mesmos, por não aceitarmos que nem tudo acontece como a gente quer. E choramos porque sentimos muito a falta dela.

Mais tarde, conformados, nos reunimos com os demais - meu marido e meu filho, a filha dela. E rimos a noite toda. Andamos pelo shopping. Comemos a comida árabe que ela adorava. Fizemos planos para as férias, que estão tão próximas. Compramos brinquedos pras crianças. E nos despedimos com um abraço tão forte que diz exatamente o quanto somos importantes um pro outro. Porque ela se foi fisicamente. Mas o que ela deixou está vivo e quer continuar forte.

E os sacos com seus pertences são apenas sacos.
O que ela vale para a gente ficou no nosso coração e na nossa memória.
Porque, afinal de contas, a vida é assim: "tudo é só isso".