sábado, 15 de novembro de 2014

Perdas e Danos

É possível perder algo que nunca teve?
Sim, hoje tenho certeza disso.

Acabo de perder um filho que eu nunca tive. Um filho que nunca foi meu. E se tem uma coisa que posso afirmar com toda certeza desse mundo é que mesmo sem saber que ele existia, não há dor maior do que saber que ele se foi.

Não deu nem tempo de saber que ele estava lá. Nem pude rir disso, muito menos sonhar.

A única lembrança que ele me deixou foi dor. Muita dor. Primeiro começou com a dor física - quase insuportável por dias - que me fez ir e voltar de médicos constantemente. E agora me deixou a dor emocional de saber que ele estava aqui e nunca foi meu. Nem será. 

Não, ele não era planejado, tampouco esperado. Mas se veio, era pra ficar. Já consigo imaginar inutilmente meu mundo com a sua presença. 

Os médicos me deram a notícia como se fosse algo bom: não vai precisar de cirurgia, tudo se resolverá naturalmente! Faltaram os "vivas, vivas". As pessoas me dizem: "Deus sabe o que faz, confie". E eu só consigo pensar: "por quê?" Por que comigo, por que agora, por que assim? 

Como eu disse ontem: um dia, quem sabe, seja possível entender o por quê das coisas. Mas hoje não quero pensar nisso. Quero sentir a minha perda e deixar que ela flua. Talvez ela me faça ser uma pessoa melhor, talvez me traga boas lições. 

Hoje eu só quero chorar e esperar passar. Porque vai passar, eu sei. 

Enfim: é possível perder algo que nunca se teve. E quer saber? É ruim demais. 




domingo, 27 de julho de 2014

Tipo Eduardo e Mônica



Quem um dia irá dizer que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração? 
E quem irá dizer
Que não existe razão?


Dia desses ela abriu os olhos mas não quis se levantar

Ficou deitada e viu que horas eram
Enquanto ele trabalhava
No outro canto da cidade
Como eles disseram

Ele e ela se encontraram há muitos anos
E conversaram um pouco pra tentar se conhecer
Ela vivia uma outra história e ele algumas outras

Eram muito diferentes.

Ele falava em números, dinheiro, carros.
Ela comentava sobre astrologia e um recém-lançado livro de crônicas.

Nada os ligava, mas não conseguiam tirar os olhos um do outro.
Ela com outro; ele olhando.
Ele com outras, olhando para ver se ela via.
E ela via. Com ciúme, quieta, sem entender aquele sentimento.

Mas via.

E mesmo com tudo diferente, anos depois
Apareceu uma vontade de se ver.
E mesmo não se falando todos os dias
A vontade crescia e eles tiveram que ceder.

Ele e ela trocaram MSN e conversaram
Decidiram se encontrar
E ao se verem perceberam que todo o tempo passado
Não tinha apagado aquele sentimento – era de se estranhar.

Tipo festa estranha, com gente esquisita.

Ele já estava no esquema trabalho-dinheiro-meu carro
Ela ainda no esquema escola-cinema-televisão.

Quando estavam juntos, nada disso importava.
Os beijos eram os mais quentes
A vontade de estarem próximos era a mais forte.
Diferenças que se apagavam ao misturarem a respiração.

Ele gostava de magras, baixinhas, sapato 36.
Ela gostava de menos intransigência, mais simplicidade, mais riso.
Ela era alta, nem tão magra assim, sapato 37.
Ele era altivo, onisciente, emburrado.

De olhos fechados e bocas coladas, isso tudo era indiferente.

Mas o tempo...
Ah, o tempo!
Ele passou.
E os afastou. De novo.

Quem um dia irá dizer existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?

Naquele dia
Quando estava deitada e não quis se levantar
Viu que o barulho era do celular
Com sono, não quis ver.

Horas depois, ao despertar, percebeu:
O passado estava ali, tocando de novo.

E quem irá dizer que não existe razão?


terça-feira, 17 de junho de 2014

Passado que não passa

Todo mundo tem uma história (ou várias) que some da memória por um tempo e te faz conseguir viver bem sem elas. Às vezes ficam tão remotas que você acaba até esquecendo que já as viveu.

Até que um dia.

Um dia. 

Pode ser qualquer coisa: um negativo de foto guardado (porque negativos são tão antigos que só guardados mesmo), uma foto na internet, um e-mail surpresa, um esbarrão na rua, uma música que toca no rádio, um programa de TV, uma frase. Qualquer coisa pode acontecer, em qualquer momento, e todo aquele passado que estava lá bem no passado, aparece e toma um lugar que você não imaginava ter no presente.

Então, de repente, tudo aquilo que você via como verdade começa a mudar. 

O que você queria mesmo? Quais eram seus planos? E os sonhos, para onde foram?

O que você fez com você mesmo?

Se o passado realmente não passou, talvez não devesse ter ficado tanto tempo escondido. Sentimentos, emoções, vontades, sonhos e idealizações de um antigo você fazem parte do que você se tornou. 

Nem sempre tomamos as decisões corretas. Talvez por isso o passado volte para te dar uma segunda (terceira, quarta...) chance. 

Dizem por aí que às vezes é preciso dar um passo para trás para depois poder dar dois pra frente.

É só a vida brincando de surpresa. 



quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

A segunda listra azul

            Há 7 anos eu não era uma pessoa legal, sabe? Tinha uma visão limitada da vida, do amor e das necessidades do ser humano. Só pensava em trabalhar para ganhar dinheiro, levava a vida sem muitos sonhos. Olhava para o meu umbigo como se ele fosse, realmente, o centro do universo. E fui assim, ao longo dos meus 25 anos... 
          Até que um dia, apareceu uma segunda listra azul no teste de farmácia, nove meses passaram voando e quando eu vi, era 16 de janeiro de 2007 e tudo se transformou. TUDO, tudo mesmo. 
             O Vinícius chegou ao mundo às 8h22m de uma terça-feira chuvosa - o dia mais lindo do mundo. E desde que eu o vi pela primeira vez, nada ficou igual. Todas as minhas necessidades mudaram, mas mais do que isso, todos os meus valores mudaram. Ele precisou chegar para me fazer ter coragem de ter a profissão que sempre sonhei; ele precisou chegar para me mostrar que a vida é mais do trabalho/dinheiro; ele precisou chegar para que eu pudesse, enfim, entender que amor não se mede, não se pede, não espera nada em troca. Amor é assim, simples: ouvir sua respiração, sentir seu cheirinho, acompanhar suas descobertas, ficar cansada demais, ficar feliz demais, rir e chorar, sentir o meu coração batendo fora do meu corpo. 
           Além da morte, a outra única certeza que tenho nesta vida, é que o Vinícius é e será sempre meu. Aconteça o que for, sejam quais forem nossos caminhos, o nosso laço nunca poderá ser desfeito. E esse é o maior presente que eu ganhei da vida e de Deus. 
        Nunca pensei que seria mãe, nem mesmo me imaginei nesse papel, então, agradeço pela possibilidade que me foi dada de gerar uma vida e renovo a minha fé quando vejo que meu pequeno está crescendo bem, com saúde, esperto e lindo, lindo demais. 
        Hoje é o aniversário do meu filho. São 7 anos, já. Mas o presente é meu. Obrigada a todos que estão conosco nessa trajetória desde o início ou desde pouco tempo, não importa. Obrigada por amarem o meu filho e por estarem presentes em nossa vida. 
         Feliz aniversário, Vini! Hoje a mamãe vai deixar você criar a sua conta no Facebook como você sempre pediu, afinal, já está virando um mocinho. 

          Te amo - ever thine, ever mine, ever ours.