Quando o Kurt Cobain morreu eu
era adolescente e não sabia muito da vida, nem de vocabulário. Continuo sabendo
pouco da vida, mas meu vocabulário enriqueceu bastante e já consigo saber qual
é o significado da palavra empatia, uma das mais repetidas na carta de
despedida que Cobain deixou.
Lembro que na época, sem entender
direito porque um cara rico, bonito, famoso e pai de família tinha feito
aquilo, fui curiosa comprar a revista Bizz pra ler a carta traduzida na
íntegra. Ainda não entendo quais motivos levam alguém a cometer suicídio, mas
confesso que mesmo passando todos esses anos, aquela carta nunca me saiu da cabeça.
Tenho pensando muito no Kurt, na
escolha das palavras finais que usou e que deixou para ser lembrado e deve ter
sido muito triste se despedir do mundo por estar apático. Saber que você é
rodeado de pessoas que esbanjam beleza e empatia e não conseguir se contagiar
com esse sentimento deve ser doloroso demais.
Diante de todos os sentimentos
contraditórios que venho sentindo ultimamente, consigo entender o lado medroso
do Kurt. Tenho vivido em total apatia também. Veja bem: sei bem do que estou
falando. Há mais de uma semana a apatia é algo que tem me dominado. Estou aqui,
presente, mas não estou pensando em estar aqui. Quando estou lá, também me
sinto de corpo presente, com a cabeça em outro lugar.
Falo com todo mundo, converso na
internet, resolvo as coisas da casa. Faço comida, coloco meu filho pra dormir,
oriento meus alunos. Cumpro calendário, corrijo atividade, comprimento as
pessoas. Mas não percebo como estou fazendo essas coisas. O dicionário diz que
apatia é “falta de emoção, motivação, entusiasmo” e não consigo pensar em
definição melhor para todo esse sentimento que venho tentando expressar, sem
conseguir.
Honestamente, não consigo
entender porque tenho me sentido assim. Perdi duas gestações num intervalo de
um ano, mas convenhamos, todos sabíamos que não era algo planejado. Acontece
que elas “aconteceram” e eu não estou achando justo que esse tenha sido o final
das duas. São tantos “por quês” na minha cabeça que mistura o antigo sentimento
da raiva, com indignação e ódio, muito ódio. Passados esses momentos de stress
dos quais nem mais consigo chorar, sinto que estou mais leve e então, meio que
flutuando, tipo um holograma: você me vê, mas eu não estou ali.
Querido Kurt: nunca vou entender
o que leva uma pessoa a tirar a sua própria vida, deixando uma família para
trás, uma história. Mais do que se deixa pra trás, você perdeu tudo o que
poderia viver adiante – e olha, essas possibilidades eram infinitas. Não dá pra
entender.