segunda-feira, 14 de março de 2011

Dia 04: Seu livro favorito

Esta é outra que eu respondo imediatamente: Pai & Filho, de Tony Parsons. Minha edição é da Editora Sextante, não sei se alguma outra o publicou também.

O livro, basicamente, conta a história de um cara (Harry) que, ao fazer 30 anos, entra numa espécie de crise de meia-idade e transa com uma colega do trabalho. Casado com uma mulher linda (Gina) e com um filho de 5 anos (Pat), ele se vê, de repente, separado da mulher. Ela descobre tudo, vai trabalhar e estudar no Japão e deixa o filho para que ele cuide. E é aí começa a história. A história de amor fraterno e superação mais linda do mundo. 

Cada leitura deste livro traz, para mim, uma emoção nova. E acredite, eu já o li muitas, muitas, muitas vezes. 

Todo mundo sabe que eu tenho uma relação delicada com o meu pai, que me abandonou quando eu tinha 3 anos e sempre foi muito ausente. Ler uma história de redenção como esta, de amor, de família, de compaixão, mexeu muito com minha estrutura.

Algumas frases do livro, que, para mim, são perfeitas:

"Gina se lembrava dos aniversários esquecidos de sua infância, o pai sempre mais preocupado com algum relacionamento novo e excitante, as férias prometidas que nunca aconteciam e a mãe dormindo sozinha, envelhecendo sozinha, chorando sozinha. Gina nunca poderia ser indiferente à imagem de uma família comum. Não estava nela. Gina queria um casamento que durasse para sempre porque era exatamente o que os pais dela nunca tiveram."

"Não era só até um de nós se sentir um pouco entediado. Era para sempre - e não só até um de nós resolver que as coisas estavam ficando sem graça no leito conjugal. Não é assim que as coisas funcionam."

"Gina fora embora, mas estava em toda a parte. A casa estava cheia de CDs que eu nunca iria ouvir, livros que eu nunca iria ler e roupas que eu nunca iria usar. Coisas de Gina, que machucavam meu coração toda vez que eu as via. Elas tinham de ir embora. Eu me sentia mal com a ideia de jogar tudo fora, mas, que diabos, a pessoa que vai embora devia levar suas coisas. Suando muito, eu perambulava pela casa removendo o que restava da presença dela. Tudo isso agora era lixo. É espantosa a rapidez com que a gente pode eliminar da casa os traços da vida de uma pessoa. Tanto tempo para colocar nossa marca e tão pouco tempo para varrê-la. Mais tarde, levei algumas horas esvaziado os sacos de lixo e recolocando cuidadosamente as roupas, os CDs, os livros, as gravuras e tudo mais nos exatos lugares de onde eu os tirara. Porque eu sentia falta dela. Sentia uma falta louca. E eu queria que todas as coisas de Gina estivessem exatamente onde ela as havia deixado, prontas e à sua espera no caso de algum dia ela querer voltar para casa."

"A gente precisa de carteira para dirigir um carro. Precisa de licença para ter um cachorro. Mas qualquer um pode colocar um filho no mundo. Afinal de contas, eu pensei, a mãe solteira é o pai que ficou."

"Nós ferramos a nossa vida toda vez e são os nossos filhos que pagam a conta. Nós mudamos para outros relacionamentos, estamos sempre começando de novo, sempre querendo mais uma chance para dar certo, e são as crianças de todos esses casamentos que pagam o preço. Eles carregam feridas que vão durar a vida inteira. E isso tem de acabar."

Enfim, eu sei que temos muitos clássicos da literatura e eu gosto de vários deles, mas nenhum livro que eu já tenha lido se compara ao que este livro faz comigo. Pai & Filho, sempre.