quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Ela

Todo mundo sempre esperava por sua chegada. Ela era a pessoa que animava, que resolvia, que unia. Não tinha encontro sem ela, não havia planos sem que ela dissesse como fazer. Porque ela sempre soube mais do que todo mundo. E sempre soube conduzir.
Tinha defeitos, claro e, às vezes, as pessoas falavam sobre certas atitudes. Mas ela nem ligava, parecia - e realmente era - indiferente a isso. Personalidade forte.
Mãe, esposa, amiga, tia, madrinha, irmã. Tudo isso numa pessoa só. E ainda usava salto, trabalhava fora e comandava a casa. Todo mundo a via como o alicerce daquela família.
Até que um dia, Deus – se é que ele realmente existe – decidiu acabar com isso. Deve ter tido os seus motivos - e ninguém nunca entendeu quais. De uma hora para a outra, tirou-lhe a dignidade e deu-lhe o pior de todos os castigos: aquele que não tem cura. E não houve dinheiro neste mundo que conseguisse reverter esta situação.
Parece que quando Deus decide desmoronar a vida de alguém, ele não faz meio serviço.
No começo havia esperança, luz. E ainda era possível tirar-lhe alguns sorrisos. Ainda era possível tentar reunir as pessoas à sua volta e tentar ver a vida como ela era antes deste turbilhão. Mas Ele não estava para brincadeira. E pouco a pouco foi lhe tirando o brilho, a dignidade, a força e enfim, quase lhe tira a vida.
O que Ele não esperava é que contra a Sua vontade há um batalhão de pessoas. Gente esperando que ela ganhe esta batalha e que está torcendo, com todas as forças possíveis, para que este pesadelo acabe logo. Este Deus tão misterioso não conseguiu tirar algo do coração dela e nem dos que a amam: a esperança.
A dignidade de alguém se mede em quê? Eu não sei dizer. Sou mera espectadora desta história que espero que tenha um fim sem dor. Mas eu sei que ela é mais forte do que isso. As pessoas sentem suas dores quando a olham e se pudessem, dividiam-na para que ela sofra menos. Se isso não é amor, eu não sei o que pode ser. E desde pequena a gente escuta: só o amor vence. Diziam também que a fé move montanhas – mas esta ninguém tem mais. Resta o amor e a esperança.
Nosso desejo é que num futuro próximo todos parem de usar verbos no passado para se referir a ela. Porque ela está aí, vivendo, lutando. E esta esperança ninguém pode nos tirar.