quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Minha última carta para você


Há um ano, quando você se foi, eu tinha duas sensações misturadas. A primeira era a dor. Uma dor física enorme no peito em ver você ali deitada, sentindo dores e ninguém poder fazer nada para amenizar isso. Depois, uma dor absurda em te ver partir, estando ali tão exposta e imóvel; sem sua risada sempre tão presente, sem suas palavras, sem sua voz. Dor em ver o seu caixão ser fechado, ver seu túmulo ser lacrado. Dor, muita dor – por você que se foi, por nós que ficamos; dor pelo Zé; dor pelas crianças. O segundo sentimento era a raiva. Raiva de isso tudo ter acontecido com você; com essa família. Raiva de Deus, porque se Ele existisse mesmo não ia deixar nada disso acontecer, raiva dos médicos que em pleno século XXI não conseguem controlar uma doença, raiva da vida por permitir isso tudo.

Fiz inúmeros textos para você – mesmo sabendo que você não ia ler – mas porque esse é o jeito que eu consigo me expressar, essa é a minha forma de desabafar, enfim, porque ao te escrever, me sentia mais próxima.  Falei sobre sua doença, sua partida, saudade, seu aniversáriosonhos, suas coisasdia do amigo e retrospectiva do ano.

Fui muitas vezes à sua casa, estive o tempo todo com eles. Não só porque os amo, mas porque estarmos juntos foi uma boa forma de passarmos por isso. Sua presença ainda é muito forte em tudo o que conversamos, em tudo o que fazemos. No meu dia a dia, ainda converso bastante com você, pergunto o que você acha do que está acontecendo, pergunto se você está bem. É uma pena eu ainda não ter sonhado com você, mas acho que isso leva um tempo mesmo.

Os sentimentos de um ano atrás às vezes voltam com força. Ainda não entendo o porquê da sua partida. Mas hoje eu já consigo aceitar e aí a dor vem menos forte. Isso é bom, não é? Quando penso em você já não fico lembrando dos dias tristes, das cenas do hospital. Hoje, quando eu penso e falo sobre você, lembro do que você realmente foi: alegre, amiga, mãe, companheira e acima de tudo, sincera.

Faz um ano, Tâ. Não sei dizer se é "já" ou "ainda" um ano. "Já" porque passou rápido demais. "Ainda" porque não foi o suficiente para apagar a saudade. Não importa. Essa data marca uma nova etapa para mim e eu te prometo que a partir de hoje vou tentar não mais chorar. E prometo que essa é a minha última carta. 

Fique em paz, amiga-irmã. Um dia a gente se reencontra. Te amo tanto!


Uma música pra você: