domingo, 27 de fevereiro de 2011

A crise dos 29 (texto escrito em 19/05/2010)

Estou entrando em crise com a minha idade. Logo eu, que sempre ri com os livros da “Bridget Jones” e achei que não teria este tipo de “paranoia”, confesso: estou abalada. De repente me caiu a ficha que estou indo rumo ao meu último ano na casa dos 20. Se todo mundo tem crise quando chega aos 30, eu estou entrando em crise porque farei 29. Ou seja, além de tudo, sou louca, porque até minha crise chega antes.

Minhas amigas já falaram sobre isso no blog que temos juntas. Enfim, olhando à minha volta, posso perceber que esta crise é normal e que um dia ataca a todos nós. Chegou o meu dia.

Comecei a perceber que a crise estava atacando quando me vi folheando catálogo e olhando na parte de cremes para o rosto e corpo. Sempre detestei cremes. Sério. Não via lógica em sair do banho, limpinha e cheirosa e me “melecar” toda. Nas poucas vezes em que fiz isso, tive ímpetos de correr para uma nova ducha. Mas aí, com um novo olhar, comecei a encontrar linhas de expressão que antes não existiam no meu rosto. E estas olheiras, de onde saíram? Sem contar sobre os cabelos brancos, mas estes não me incomodam tanto, porque existem ali desde os meus quinze anos. Na verdade, não me incomodavam. Agora, quando eles decidiram sair bem na linha divisória do cabelo, minha vontade é arrancar tudo.

Resumo: comprei creme para as linhas de expressão do rosto, creme firmador para a pele um maldito sabonete esfoliante. E, claro, vou voltar a pintar o cabelo, já que a cor natural está meio “natural” demais. Meu marido, acostumado com minha falta de gosto por estas coisas, até me perguntou:

- “Você tá me traindo?”

E ao responder a ele, me dei conta do que estava acontecendo. Porque minha resposta foi:

- “Não, estou com medo de parecer uma velha”.

Lá no colégio, meus alunos me chamam de “prô”, um apelido carinhoso. Mas quando falam comigo sobre mim, me chamam de senhora. Isso acaba comigo. Senhora é a minha vó, quem, aliás, nunca me deixou chamá-la assim. Se quiser briga com a minha avó é só chamá-la de senhora. Ela sempre responde, de pronto, no alto dos seus 70 anos:

- Não me chame de senhora porque eu não sou velha.

E não é mesmo. Ela trabalha, é super lúcida, anda pra cima e pra baixo e, para meu desespero, pinta o cabelo de loiro porque gosta e não para cobrir os fios brancos, que nunca existiram em sua cabeça.

Um dia destes, lá no colégio, uma aluna perguntou a minha idade. Quando eu disse, ela me respondeu:

- Nossa prô, a senhora é bem mais nova que a minha mãe!

Minha vontade foi responder: “claro que sim, né, já que você tem “apenas” 14 anos e eu teria que ter sido mãe na sua idade para que você estivesse aqui hoje”. Depois, pensando melhor, vi que não seria a resposta adequada e apenas sorri e me dei conta: se antes eu era comparada aos amigos e primos, agora já sou comparada às mães. Devem ser as marcas de expressão.

Decidi que quero chegar inteira aos 30. Quero estar bonita, com cabelos bonitos, sem fios brancos, mesmo que tenha que recorrer ao artificial. Também não quero que as marcas de expressão ao redor dos olhos (me recuso a pensar na palavra ruga) estejam mais suaves, a pele mais dura e o manequim, 42. Não quero parecer uma ridícula tentando esconder a idade, mas não quero ter cara de senhora. Pelo menos não aos 30 anos. Se algum dia me chamarem de “dona Denise”, eu acho que tenho um infarte. Não. Melhor ter um ataque de nervos, já que infarte é doença de velho.